sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Presentes que quero ganhar sempre

Participei nesta semana do 1º Fórum de Educação, organizado pela editora IBPEX, um dia repleto de temas sobre Educação Especial. Além de encontrar "velhos" e bons amigos, como também ex-alunos, recebi de lembrança e com muita honra, dois livros: Educação Especial, pesquisa e prática, da colega e professora Regiane Banzzatto Bergamo. Ainda não li mas, um tema que estava faltando no mercado. O segundo presente foi "Deficiência Motora, intervenções no ambiente escolar" da também colega Jocian Machado Bueno. Só pelo título percebe-se o quanto este material pode ser útil em nossas escolas ditas inclusivas.
Como livro a gente não ganha sempre, prometo "devorá-los" e em seguida comento-os.  

LOUCURA É DELÍRIO

(...) Segundo Foucault, a essência da loucura é o delírio, quando o discurso descola do real. Foucault argumenta fortemente que esta á a definição de loucura: uma verbalização de que o sujeito está descolado da realidade. Não envolve conceitos como alucinação ou violência, e, sim, uma definição pelo discurso: delírio é loucura. Seu argumento é histórico, foi assim que as pessoas foram sendo primeiro segregadas, depois separadas, depois institucionalizadasm PELO DISCURSO. Essa premissa, base de grande parte do que vem depois em sua obra, é assustadora e dá o tom amedrontador ao trabalho de Foucault.
A causa da institucionalização das pessoas por loucura sempre foi o discurso, e não os atos.
Delírio é uma palavra de origem latina: "de" quer dizer descolado da, desgrudado da, como o prefixo "de" é usado línguas modernas. "Lira" são aquelas reentrâncias que existem em galhos grossos de árvores grandes, frondosas, onde pássaros pequenos fazem seus ninhos.
(...) Estar fora da casinha, então, significa delirar.

Do livro FORA DA CASINHA de Paulo Rogério Bittencourt
Uma análise histórica da loucura através dos séculos
2ª edição

O corpo, espelho partido da história - Evgen Bavcar

"O essencial é visto pelo coração”, dizia Saint-Éxupéry.




Também se torna visível pelo meu sonho de uma nova Antígona que não seja somente a que nos propõem as imagens visuais.



O olhar aproximado dos deficientes da vista possibilita a percepção material do substrato do mundo e do nosso corpo, ainda que seja no espelho velado da visão do cego.



Este reflexo não representa perigo de suicídio pela identificação absoluta do sujeito com o objeto, isto é, daquele que olha e daquele que vê e se sabe insubstituível na sua presença corporal.



Referindo-me aos intérpretes gregos do oráculo, sustento que a palavra do corpo ferido do cego pode portar nela uma força redentora e evidenciar o conteúdo abstrato e mentiroso das realidades virtuais que ficam sem volume nem consistência perceptíveis pelo nosso corpo.



Para mim, a única possibilidade de me assegurar da existência é um corpo-a-corpo permanente do objeto da percepção com o sujeito que percebe.



Na minha qualidade de fotógrafo, tento considerar a câmara escura como espaço infinito em que as imagens podem surgir.



Também nossa terra é uma câmara escura onde os astrofísicos podem às vezes observar as estrelas diretamente, mas no mais das vezes às cegas, com a ajuda de instrumentos e da imaginação, conforme observa o astrofísico Peter Von Balmoos.



‘A obscuridade do momento vivido” não diz respeito somente aos cegos, mas a toda a humanidade em busca do infinito.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ponto cego

Gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre a biofilosofia da percepção visual orientado pelo autor Philippe Meyer (O olho e o cérebro). Necessário estas discussões para que possamos compreender a educação com um "novo olhar". Podemos iniciar a reflexão discutindo como o cérebro interpreta o que os olhos captam das informações do meio. Acho que nossos "cérebros" estão preparados em parte para responder todas as necessidades. Só conseguimos responder o que enxergamos quando temos as informações anteriores armazenadas, caso contrário, não conseguimos identificar o que vemos. E o ponto cego? Edme Mariotte, físico amador residente em Dijon, comunicou em 1666 à Academia de Ciências as suas Observações sobre o órgão da visão, pelos quais demonstrava a existência de um ponto cego no campo visual. E o que isso tem a ver com a educação? As descobertas, segundo Philippe, demonstram que, ao lado do conhecimento explícito, há lugar para um conhecimento implícito. Isto devido a tal PONTO CEGO, ou seja, um olhar não desejado, uma tomada de consciência não intencional do meio ambiente (p.77). Esse conhecimento implícito (do "olhar" do ponto cego) que é automático, corre o risco, da mesma forma que uma sensação percebida, de entrar nos ARQUIVOS da memória e de deixar uma RASTRO ulteriormente recuperável.

o autor ainda informa, sobre os nossos "pontos cegos" que existe uma síndrome similar à da visão cega relacionada com o tato. Chamada por essa razão de "tato cego" (blind touch).

Isso tudo pode fazer-nos pensar que, muitas coisas que vemos e não percebemos podem um dia ser usado para novas percepções e outras, que achamos que "vemos", nunca serão decodificadas pois não foram processadas organizadamente em nosso cérebro. por isso existe a diferença básica entre ver e enxergar.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O nascimento de uma pedagogia especial

Em 1873, D. Antônio da Costa (1900, p. 155) fa uma viagem ao Minho para mostrar num 4º capítulo como funciona a Escola de surdos-mudos em Guimarães. Descreve uma "casa do estudo mais parece uma oficina: machinas, instrumentos, collecções de dinheiro, quadros intuituvos, tudo ali está" (p.49). Aí, tudo era baseado nas lições das coisas e destinado a deenvolver capacidades profissionais. Mostra-nos uma instituição modelar onde há o padre Aguilar, que usa de muit amor e de muito empenho para elevar o nível do sucesso escolar. Faz-nos lembrar Pestalozzi e Froebel, já que educa os deficientes auditivos segundo "os grandes princípios do ensino pela alegria e pelo coração"(p.47). Conta-nos depois que no ano de 1823, talvez como consequência da revolução liberal, o ensino dos surdos-mudos iniciou-se com o sueco Pedro Bory, com o governo a dotar a sua escola com 4600$000 réis. Em 1828, Bory foge de Portugal aterrado com os acontecimentos políticos. Também em 1832, o subdirector dessa escola, Chrispim da Cunha, é encarcerado por suspeitas de ser constitucional. Logo em 1834, de facto, poupava-se radicalmente na educação dos surdos-mudos. Deixava de haver escola (COSTA, 1900, p.50). A escola de surdos-mudos do Padre Aguilar em Guimarães era a única que exista em Portugal. (...)

O ensino dos anormaes - preocupações em Coimbra e em Portugal no início do século XX
Aires Antunes Diniz
In: Educar em Revista, n. 23/2004 Editora UFPR

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Surdocegueira: Classificação de acordo com a intensidade das perdas

> Surdocegueira total;
> Surdez profunda com resíduo visual;
> Surdez moderada ou leve com cegueira;
> Surdez moderada com resíduo visual;
> Perdas leves, tanto auditivas quanto visuais;

TIPOS

> Cegueira congênita e surdez adquiridas;
> Cegueira e surdez adquiridas;
> Surdez congênita e cegueira adquiridas;
> Baixa visão com surdez congênita ou adquirida;
> Cegueira e surdez congênitas.

Caricatura e informação

Caricatura do Manual: Como se relacionar com os deficientes.
Coordenador: Carlos Mosquera

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Síndrome do X-frágil

Acho que o trecho a seguir do livro O CÉREBRO EM TRANSFORMAÇÃO de Suzana Herculano-Houzel, tem uma referência muito grande com o assunto da matéria que está logo abaixo (neurônios-espelho).
(...) Ao nascer - e ao longo dos primeiros anos de vida, enquanto mais matéria-prima sináptica é adicionada a ele -, o cérebro é como um bloco de pedra bruta que contém em si todas as esculturas possíveis. Esse cérebro é capaz de aprender russo, alemão, chinês (e ainda bem, pois não tinha como adivinhar em que país nasceria!), tornar-se concertista, operário, professor ou atleta olímpico. No que ele se tornará, depende do cinzel empunhado pela vida, pelo ambiente, pelas escolhas que o próprio cérebro vai fazendo no caminho. É o bloco esculpido - e não o bruto, cheio de possibilidades, mas ainda bruto - que permite as habilidades refinadas do adulto.
E como na escultura, se a eliminação das sobras de matéria-prima é incompleta, o resultado final fica comprometido: uma das características de várias formas de retardo mental, como a síndrome do X-frágil, são falhas no mecanismo de eliminação sináptica durante a infância e a adolescência. Com sinapses demais e sem conseguir livrar-se delas, o cérebro fica congelado na infância - no seu estado de bloco de mármore cheio de possibilidades, mas incapaz de realizá-las.(...)
(pg. 68)