segunda-feira, 25 de junho de 2007

Às vezes fecho os olhos quando desejo ver

Paul Gauguin

Há um povo indígena no Acre que se autodefine Huni Kui, cuja tradução tem o significado de gente verdadeira. Um amigo que trabalha com tecelagem e é pesquisador dos corantes naturais da floresta brasileira me contou como esta tribo transmite os ensinamentos ancestrais para as novas gerações. São belos exemplos sobre a arte de ensinar, educar e trabalhar em equipe. Por meio de rituais simples, mas de grande significado e sabedoria, eles imprimem de forma eficiente, de uma geração para outra, o que vêm aprendendo há séculos. Por exemplo, a iniciação ao estudo da tecelagem começa sempre na lua nova e antes de uma menina receber as lições a professora coloca sobre os seus olhos duas pedrinhas. Faz uma oração e pede que a criança enxergue mais e melhor do que ela vai ensinar. Em seguida, a avó desta menina leva-a para a floresta e juntas fazem cantigas à jibóia para que esta também ensine com perfeição todos os pontos do tear. Os padrões da tecelagem da tribo chamam-se kenes e são inspirados no couro da cobra. Durante o tempo do aprendizado, enquanto realiza o trabalho, a aluna canta para chamar a força das pedrinhas e se manter concentrada na tarefa e no estudo. Com certeza estes rituais preparam o aprendiz para a concentração no trabalho a ser executado, a se comprometer com a lição e a estabelecer compromissos contínuos com a qualidade. Além disso, a tribo tem o seguinte conceito sobre o aprendizado: a melhor maneira de aprender as coisas é fazendo junto. Tudo é ensinado passo a passo. Não há pressa. A aprendizagem como um todo se estende até a fase adulta. Os meninos aprendem com o pai o serviço dos homens e as meninas com a mãe o trabalho das mulheres. Enquanto vão ensinando, os mais velhos contam histórias sobre o porquê daquele trabalho e daquele jeito. Um dos indígenas explicou a este meu amigo que professores e alunos buscam a memória do passado para compreender o presente e planejar o futuro. É surpreendente que um povo com esse grau de evolução seja chamado de selvagem!Os trabalhos artesanais e os desenhos desta tribo são reconhecidos pela alta qualidade. Cada padrão de imagem é baseado no couro da jibóia adulta. Como a cobra tem 25 padrões, eles podem fazer desenhos maiores em quantos formatos quiserem. É como lidar com as letras do nosso alfabeto, só que em desenhos.É lógico que temos conhecimentos bem diferentes para passar aos nossos filhos. Nosso modo de viver é outro, talvez mais complicado, com ferramentas complexas e maior amplitude de disciplinas. Lutamos pela mesma sobrevivência de outra maneira e o tempo corre acelerado para nós urbanos. Mas quero chamar a atenção para o modo como a tribo Huni Kui enxerga o aprendizado: há alguma coisa de sagrado no ato de ensinar e aprender entre eles. Existem rituais como o de fechar os olhos para ver melhor o que a professora ensina; de cantar para louvar o grande provedor de ensinamentos neste caso, a cobra; de trabalhar alegre e cantando para chamar a atenção do aluno para a concentração no trabalho. Nós entregamos nossos filhos às escolas e só nos preocupamos com a sua educação de vez em quando, ao darmos uma passada de olhos nos boletins ou quando somos chamados à orientação pedagógica para saber, sempre tarde demais, que nosso filho está com algum problema. A maioria de nós delega a tarefa sagrada do ensinar às professoras, esperando delas ações que deveriam ser da exclusividade dos pais. Muitos deixam crianças por conta de empregadas domésticas e da babá eletrônica. Depois, por culpa, enchem as crianças de presentes, mimos e estragos. Não seria melhor ensinar fazendo junto, aproveitar melhor este curto espaço de tempo que temos ao lado dos nossos filhos? É pouco tempo mesmo. Quando se fica mais velho percebe-se isto. Então será tarde demais. Os pais se desculpam dizendo que têm que ganhar a vida, o trabalho ocupa todo o tempo, viagens e reuniões sem fim, o trânsito é um caos. Sei que com um pouco de disciplina e esforço pais e mães podem dar um suporte melhor à educação dos filhos. Quando estiver em casa, na companhia deles, esqueça por completo os afazeres do dia-a-dia profissional e só pense na qualidade da sua presença. Pois se estiver com os filhos e ficar pensando no trabalho, não estará com eles, mas sim no trabalho. Faça como os Huni Kui, gente verdadeira, brinque sério de ensinar seus filhos. As futuras gerações agradecerão.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Recuperação funcional: capacidade auditiva

A surdez pode ser de dois tipos; de condução ou neurosensorial. Isso já foi abordado anteriormente, o que não foi comentado e acredito oportuno são as possíveis capacidades de reabilitação. Na surdez instalada, os aspectos emocionais são "clássicos" como; isolamento, constrangimento em usar aparelhos de audição, distanciamento dos grupos sociais e outros.
Sabe-se também que, um déficit na capacidade auditiva é limitante para a aquisição da linguagem verbal. Por isso a aquisição da linguagem pode ser conquistada antes da deficiência auditiva ou depois. O estímulo auditivo necessário para induzir uma plasticidade cerebral no córtex auditivo se obtém com implantes cocleares. Quanto mais cedo o implante mais fácil pode ser processado esta etapa da plasticidade, mais fácil também para a aquisição da linguagem verbal. O período de resposta crítico para estimulação auditivo com implante coclear fica estabelecido nos primeiros 6 anos de vida, fora este período não acontece a recuperação da perda da plasticidade neural (Manrique, Cervera-Paz, Huarte, Pérez, Molina e Garcia-Tapia, 1999)

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Musicoterapia, uma alternativa para a reabilitação de autistas


Modernidades e o autismo

A matéria principal da revista EPOCA desta semana é sobre autismo, que por sinal muito didática. Na matéria como em algumas colunas aqui escritas, a preocupação dos pesquisadores continua sendo o grande número de crianças sem um diagnóstico preciso. O Brasil precisa urgentemente de um programa nacional para uma avaliação e diagnóstico padronizados e coerente, que favoreçam um encaminhamento para a reabilitação o mais precoce possível. As escolas especializadas existem, apenas carecem de um acompanhamento mais diretivo, sentem falta deste amparo de informações técnicas oriundas de fontes governamentais seguras.
Aproveitando o momento, aproveito para relacionar algumas teorias (neurofisiológicas) que sustentam algumas explicações sobre causas do autismo. Dawson e Lewy, 1989, apontam falhas nas estruturas dos hemisférios cerebrais, principalmente no lobo frontal, que explica as dificuldades no comportamento social. Essa abordagem explica os sintomas autisticos - retraimento social e estereotipias - como resultado de uma dificuldade em modular a experiência sensorial. Para explicar isso estudos apontam uma sobrecarga sensorial durante a interação social, considerando-se que o ser humano é uma das fontes mais ricas de estimulação simultânea: tom de voz, expressão facial, gestos e referência a objetos e eventos ao redor. O retraimento social e as estereotipias seriam formas de fugir dessa sobrecarga.
Para maiores informações sobre essa linha de pesquisa, consulte Cleonice Alves Bosa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Deficiência auditiva

As causas da deficiência auditiva(DA) podem ser pre-natais, neo-natais ou pós-natais. A escolaridade muito baixa dos brasileiros continua sendo o principal motivo da quantidade de casos que geram as deficiências mais conhecidas. Na DA direcionamos atenção a audição, que nada mais é a do que a percepção de sons. O som é produzido quando moléculas do ar são comprimidas em um ritmo regular, produzindo uma onda sonora.
A surdez pode ser classificada em CONDUTIVA ou NERVOSA: a primeira envolve interferências com a transmissão dos sons através da orelha externa ou orelha média. A causa pode ser um bloqueio físico do meato acústico externo por um objeto estranho ou cerume compacto (cera do ouvido), também pode ser uma inflamação da membrana do tímpano, adesões entre os ossículos podem contribuir com esta deficiência.
Na DA NERVOSA a perda da audição resulta de distúrbios que afetam os receptores sonoros na orelha interna, o nervo vestibulococlear, ou as vias nervosas no SNC.
Curiosidades: a orelha interna também é a responsável para o controle do nosso equilíbrio, principalmente quando estamos com a cabeça em movimento. É fácil fazer o teste do equilíbrio e testar o Aparelho Vestibular. Dê uns cinco giros com o corpo mantendo um pé fixo como apoio. Logo que você parar "algo" acontecerá. A orelha interna é a responsável por esse fenômeno.